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AmarElo Doc: um dicionário vivo de referências necessárias

O desdobramento audiovisual do álbum vencedor do Grammy Latino, chega ao Netflix nessa terça-feira (8) e traz com primor a trajetória da cultura negra no Brasil


Emicida no show do Theatro Municipal | Imagem: Jef Delgado / Divulgação
"Eu não sinto que eu vim, eu sinto que eu voltei e que de alguma forma, meus sonhos e minhas lutas, começaram muito tempo antes da minha chegada."

Lembro até hoje, do livro grosso de história que me acompanhava no ensino médio. Nele, uma infinidade de coisas que aconteceram desde o big bang, ou da maçã, passando por tanto momentos e pensando bem, tão poucos foram o que falaram dos povos negros sem ser associados à escravidão.


Hoje eu tive uma aula e pude aprender com o artista que se transformou em educador, para que finalmente eu pudesse conhecer o nome de quem veio antes de mim. É um privilégio poder ligar meu celular, acessar uma plataforma e estar imersa (e chorando) com tanta coisa dita por Emicida.


Quando entra a última tela do documentário e sobem os créditos, o sentimento de: "porque ninguém ensina isso na escola?" é inevitável. O #EmicidaAmarEloDOC é denso, é transformador e é cirúrgico. Do álbum que salvou tanta gente, ao teatro que foi construído pelos nossos e que por tanto tempo negaram a eles o direito de ocupar, até a maior plataforma de streaming do mundo. A trajetória da cor que vira experimento social, mostra pra gente que é preciso entender como chegamos até aqui e em alguns momentos, infelizmente vamos perceber que não andamos pra frente, mas que é importante fazer que nem um carinha cantou: levanta e anda, te vejo no pódio!



Tudo está ligado de alguma forma


Dividido em atos, a narrativa é como uma linha do tempo que mostra uma das coisas mais ditas nos 90 e tantos minutos: como aconteceu o embranquecimento da cultura que tradicionamente deveria ser preta. Em meio aos recortes de arquivos televisivos, retratos históricos e bastidores não só da gravação do álbum, como de um quase making-off do show do Municipal, Emicida (nosso narrador) dá visibilidade a momentos importantes da história negra do país e principalmente da música.


A bagagem cultural é gigante, simples e didática. Sem rodar ou complicar, a linguagem do documentário é plural e prova que mais uma vez é importante falar para todos, sem atrapalhar a transmissão da mensagem com rebuscagens. É como se já soubessem a dimensão de onde isso vai chegar e vai longe, porque o AmarElo é pra todos, sem distinção. Enquanto escrevo, acabo de ler um tweet do Emicida com a foto que faço questão de anexar abaixo. É sobre isso!


AmarElo sendo assistido na Unidade Prisional de Balsas, no Maranhão e

por amigos do artista no Japão. | Fotos: Reprodução/Twitter @emicida



É preciso contar essa história


Uma das coisas mais potentes do documentário é o permanente flashback às raízes do artista, ele não esquece dos seus. Quem veio antes tem palco, aplauso e espaço para ser lembrado. Uma forma simbólica de homenagear os nomes que abriram espaço para que o nome do artista do documentário, pudesse estar estampado nessa matéria ou ganhando o maior prêmio da música latina mundial.


Para perpetuar mais ainda a trajetória, o som e a cor desses nomes, a gente vai fazer aqui uma lista das personalidades que marcaram a história do Leandro e que viverão para sempre na lembrança desse documentário.


“Quando histórias grandiosas, como as que aparecem no documentário, são invisibilizadas, todos nós perdemos enquanto sociedade brasileira. Não à toa, começamos e encerramos o filme com o ditado iorubá sobre Exu, porque é tudo pra ontem e a gente vai no hoje corrigir os problemas que aconteceram antes de a gente chegar, comenta Emicida.

Athalyba e a Firma



Adoniram Barbosa - Trem das Onze


Angela Davis

(Conferência onde ela fala sobre Lélia Gonzalez, a maior representante

do feminismo negro do Brasil e fortemente citada por Emicida )


A Voz do Morro - Zé Keti


Beth Carvalho e Jorge Aragão

(Emicida conta no doc que a música escrita por Jorge Aragão

e que ficou famosa na voz de Beth Carvalho, já tocou no espaço

para acordar o robô Sojourner, na sua missão em Marte.)



Candeia

('Ao Povo em Forma de Arte', samba enrredo citado no doc, do

Grêmio Recreativo de Arte Negra Escola de Samba Quilombo)


Cartola - Alvorada No Morro


Clara Nunes e Clementina de Jesus


Dona Ivone Lara - Sonho Meu


Donga (Ernesto dos Santos) ao lado de Pixinguinha e João da Baiana

(Em seis de novembro de 1916, Ernesto Joaquim Maria dos Santos, mais conhecido como Donga, gravou o primeiro samba no Brasil: 'Pelo Telefone')


Elton Medeiros

(Foto: Ana Branco / Infoglobo)



Fela Kuti

(Foto: Reprodução ITV/Rex/Shutterstock)


Geraldo Filme


GOG e Maria Rita


Heitor dos Prazeres

(Foto: Reprodução/Arquivo pessoal Heitor dos Prazeres

em seu ateliê, no centro do Rio de Janeiro)


Ismael Silva

(Autor da música 'Quem Não Quer Sou Eu' ao lado de Noel Rosa)


Jackson do Pandeiro


Jaime de Almeida

(Jayme de Almeida, o primeiro da direita para a esquerda,

com a camisa do Flamengo | Foto: Arquivo Flamengo)


Jair Rodrigues


Johnny Alf


Jovelina Pérola Negra



Lélia Gonzalez


Luiz Carlos da Vila - Bandeira de Fé


Manoel de Barros

(Emicida cita o poeta e um dos seus poemas onde ele fala ser "fotografo do invisivel")


Marcelo D2



Mateus Aleluia


Mestre Marçal


(Manifestação que marcou a fundação do Movimento Negro Unificado, em frente ao Theatro Municipal de São Paulo, em 1978. | Foto: Folhapress)


Nelson Cavaquinho


(Emicida cita o líder africano como parte de quem o ensinou a cuidar da terra, de fazer sua horta, em analogia a essa atividade, que era a favorita de Nelson na prisão.)


Nelson Mandela narra uma de suas atividades favoritas na autobiografia “Longa caminhada até a liberdade”. Cultivar uma horta significava manter-se são na penitenciária, onde ficou preso durante 27 anos sob o regime de segregação racial da África do Sul, o Apartheid. “Eu via a horta como uma metáfora para certos aspectos de minha vida. Um líder também deve cuidar de sua horta; ele também planta sementes, e então observa, cultiva e colhe o resultado”, escreveu. 

Para Emicida, plantar significa cultivar o bem viver e se voltar para o ritmo da terra. Mandela é, inclusive, a leitura de cabeceira do cantor. “As plantas me fizeram ter uma rotina. Notei que a jabuticaba está crescendo, é maravilhoso perceber essa evolução, agora estou dentro do andar natural do tempo”, repara, com um sorriso espontâneo e sincero.

Nei Lopes

(Foto: Felipe Varanda/Folhapress)


O Homem Amarelo - Anita Malfatti



Orfeu Negro - Marcel Camus


Os Originais do Samba


Os Sete Modernos do Samba

(Mussum com Os Sete Modernos, grupo de samba que formou com amigos

em 1960 e que posteriormente daria origem aos Originais do Samba)


Paulinho da Viola


Quinto Andar


Racionais MC's


Rappin' Hood e Leci Brandão


Riachão (Clementino Rodrigues)


Ruth de Souza

(Foto: João Cotta/Globo)


(Escravizado, Joaquim Pinto de Oliveira chegou a ser apagado das páginas da história, mas é considerado um dos primeiros arquitetos de São Paulo)


Theodosina Ribeiro


Testamento do Partideiro - Candeia


The Brothers Rap


Toniquinho Batuqueiro

(Toniquinho Batuqueiro com Plínio Marcos, Geraldo Filme e

Zeca da Casa Verde | Foto: Acervo Digital)


Wilson Batista

(Foto: Instituto Moreira Salles, acervo José Ramos Tinhorão, 1957)


Wilson das Neves


Wilson Moreira

(Foto: Divulgação / Vivian Ribeiro)


Wilson Simonal

(Tributo ao Martin Luther King)


Trecho do documentário com o nome 'in memorian' das sementes que floresceram em Emicida

Mandaram muito


AmarElo Doc foi realizado pelo Laboratório Fantasma, produzido por Evandro Fióti e dirigido por Fred Ouro Preto. Além desses cabeças, compõem o time: Raissa Fumagalli e Joelma Oliveira Gonzaga (Produção Executiva), Tonic (Roteiro), Felipe Campos 'Choco' (Pesquisa), Jaecy Nascimento, Guilherme Garbato e Gustavo Garbato (Trilha Original), Butterfly Coletivo (VFX), André Juvenitil (Direção de Arte), Felipe Macedo (Diração de Animações) e Alexandre de Maio (Direção de Ilustrações).


Hoje é 8 de dezembro: dia de Oxum, que é representada pela cor amarela. Hoje completam 1000 dias desde o assassinato da Mariele e do Anderson. Nossos filhos lembrarão de hoje com o dia em que o Emicida entrou pra história também, mais uma vez.


Ainda bem que a gente divide a nossa existência com os filhos da Dona Jacira.


Emicida e Fióti, obrigada!


"A primeira vez que eu fui na África, meu amigo Chapa me levou num museu que tem em Angola, que eles chamam de Museu da Escravidão e naquele lugar tinha uma pia, e tava escrito um texto na parede que era mais ou menos assim: "foi nessa pia que os negros foram batizados e através de uma ideia distorcida do cristianismo, eles foram levados a acreditar que eles não tinham alma". Eu olhei pro meu parceiro e naquele dia eu entendi qual era a minha missão. A minha missão cada vez que eu pegar uma caneta e um microfone é devolver a alma de cada um dos meus irmãos e das minhas irmãs, que sentiram que um dia não teve uma." (Trecho do AmarElo Doc)

Todos que sentem isso são meus amigos também! | Foto: Jef Delgado.

Papel e caneta na mão, separa um lencinho e dá play. Assista Emicida: AmarElo - É Tudo Pra Ontem na Netflix.




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